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Será o tambaqui o novo boi?

tambaqui Rondônia bussola.farm

Quando a conversa é proteína animal, o que é que te vem à cabeça? Se for boi, você não está sozinho. A pecuária bovina ainda domina o debate público – apesar de a piscicultura ter um grande número de vantagens.

Por que a produção de peixes é promissora? O peixe, além de fonte de proteínas, é fonte de gorduras boas, ômega 3 e vitamina D, entre outras benesses. Ao mesmo tempo, tem um alto índice de conversão alimentar: para se produzir 1 kg de peixe consome-se apenas 1-2,4 kg de ração, enquanto para 1 kg de carne bovina consome-se 6x mais. Então existe um brutal duplu benefício: do ponto de vista da saúde humana e do ponto de vista da produção o peixe tem tudo para desbancar o boi.

Um interessantíssimo debate sobre isso apareceu em entrevista com Walter Willett, de Harvard, um dos mais famosos nutricionistas do mundo, e Catherine Woteki, da Iowa State University, uma autoridade em agricultura e alimentação, feita pela revista The Economist em 19 de fevereiro. Primeiro, eles confirmaram que o ser humano precisa, sim, ingerir proteína animal. Segundo, eles disseram que a agricultura de alta produtividade é peça chave para conseguirmos alimentarmos os 10 bilhões de pessoas que logo estarão neste mundo. E principalmente, eles reservaram ao peixes um lugar importante no futuro da alimentação humana. Foram categoricos: a aquacultura é uma fonte de proteína animal altamente promissora.

Daí a pergunta: então, será o tambaqui o novo boi? E já pode-se imaginar a resposta:

Tamba-quem?

Tambaquis bussola.farm

Tambaqui é o peixe de Rondônia. Rondônia é o maior produtor de tambaqui do Brasil. O tambaqui de Rondônia é vendido para Manaus. Os amazonenses adoram. Na hora de fazer a limpeza, uma técnica simples permite retirar virtualmente todos os espinhos do tambaqui. Isso é muito conveniente. O tambaqui é peixe de escamas.

Para quem já saboreou o tambaqui, não há dúvida: ele será o novo boi. Cada vez mais vamos substituir a carne vermelha pelo peixe, e o tambaqui tem imenso potencial para suprir essa demanda.

Só tem um problema: é preciso vender o  peixe. Atualmente, ele é vendido in natura. Nem os amazonenses compram peixe industrializado, nem os rondonienses industrializam o peixe. Além de não agregarmos nenhum valor, o mercado de Manaus já está saturado e temos cada vez mais capacidade ociosa na produção, em Rondônia. Os piscicultures estão reduzindo os seus planteis.

E qual a dificuldade para vender a outros mercados?

A primeira delas é que não se sabe muita coisa (ainda) sobre a  produção. Quanto se produz em Rondônia? As estimativas são altamente grosseiras e baseadas em dados poucos confiáveis. Onde exatamente estão as lâminas d’água? Também não se tem um mapeamento confiável da produção. Ou seja, não se sabe onde realmente estão as lâminas d’água, de forma que fica difícil atrair capital para instalar uma indústria.

Sem dados para conhecer a produção, o tambaqui fica a ver navios.